Sobre o Encontro da Velha Guarda Caxiense

Num dia ermo, após a morte de seu pai, Helvécio Vilanova Soares Filho, a senhora Eunice Soares, tomada pela dor, percebeu o peso do tempo sobre si. Olhou para trás e nada viu – tudo estava se tornando poeira no vento. O passado, os amigos, as pessoas que fizeram parte da sua infância, adolescência e mocidade, os ex-namorados, enfim, a velha Caxias – tudo sendo tragado pelas brumas lentas do silêncio e do esquecimento.

Nestes momentos de dor e intensa solidão, nos agarramos às lembranças, procuramos nelas a tábua de salvação, desejamos a presença dos amigos antigos, dos sorrisos amarelados nas páginas pregadas dos velhos álbuns de fotografia. Ou dos novos amigos e novos álbuns – talvez até álbuns virtuais. Então, numa dessas ações corriqueiras do cotidiano ultramoderno, ela abriu seu Orkut...

Reticência necessária: pausa dramática para dar um tom épico à narração – ou alívio cômico para compensar o esforço da leitura. Tanto faz, o importante é evitar a morbidez, pois esta história é uma história alegre. Dito isto, já podemos continuar.

Ao abrir o seu Orkut, ela se deparou com uma mensagem das amigas Graça Palhano e Glacê, pessoas com quem não tinha contato há mais de 35 anos. Imagine a surpresa, a emoção, a felicidade. Eunice ansiava em seu coração por algo que trouxesse consigo um pouco da força, da alegria e da pureza do passado. Esse algo emerge com a simplicidade e meiguice de um recadinho virtual. Eunice chorou.

Subitamente, percebeu o que estava diante de seus olhos. Tinha tudo necessário para reencontrar todas aquelas pessoas de quem sentia falta. O passado não precisava mas engolido pela escuridão – ela o resgataria. Mas, não sozinha, todos que fizeram parte dele o resgatariam também. A Internet estava ali, as redes sociais também, era fácil encontrar pessoas conhecendo seus nomes e sobrenomes. Uns conheciam outros e a rede foi-se tecendo rapidamente. E cada vez que um novo fio se enrolava na teia era a mesma comoção, a mesma alegria e euforia.

Ludce Machado estava de volta a Caxias. Recebeu um telefonema inesperado. Era Eunice, ela falava do sonho que elas compartilhavam já há muito tempo: reunir os velhos amigos, a velha guarda caxiense (e aí surgiu o nome do encontro). Outros foram se juntando ao grupo, vieram Reinaldo SIlva, Nehemias Leitão, Sillas Jr, José Maria Machado, Antônio Filho (Cafinfa), e tantos outros. Assim, como num conto de fadas, onde era uma vez a gente e depois mais gente, mais gente e mais gente.

E o final do primeiro capítulo dessa história todos vocês já sabem. Quando o I Encontro da Velha Guarda Caxiense aconteceu, as forças do tempo (esse deus tão lindo e cruel que faz tudo que é belo surgir, mas devora os filhos que gera) foram desafiadas. Os caxienses, cheios de orgulho, mostraram que a amizade, a coragem e a paixão por sua terra podem salvar um passado do esquecimento, resgatar mortos e (como pura conseqüência) contribuir com o inexorável futuro.